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SONO SONHADO

NOTA

Apesar de alguns meses sem novas postagens, o blog continua vivo! Tempos melhores virão, e publicações mais frequentes também. Agradeço à todos os leitores que visitam o Monólogo, e espero que vocês gostem do compilado de microcontos de hoje. Abraços!


mais um dia
A quietude noturna se rompia com o canto dos pássaros; um misto de melodias contendo duetos e sonetos, como nas canções que encantavam os bares e seus boêmios, cidadãos particulares de uma nação que escrevia lamentos em guardanapos. Em outro lugar, o início da manhã resplendia sobre um jardim banhado pela luz capaz de invadir tudo em seu alcance. As flores reluziam como o Sol, mas também brilhavam como as lâmpadas urbanas da noite anterior, espalhadas pelo lar da madrugada.


sono sonhado 
Em um campo imaginário, a esfera era lançada em passes inexistentes; lances
impossíveis aconteciam em questão de segundos, gols eram marcados e a comemoração da vitória de um jogo nunca disputado se dava por jogadores cujas faces eram borradas por uma espécie de interferência no sinal da TV. O som, rasgado por chiados, ia se transformando em um ruído ensurdecedor, e a pequena tela já não transmitia nada além de linhas cruzadas de branco e cinza. Antenor despertou do sonho pintado pelas memórias esportivas como uma criança retirada do parque de diversões.


orquídeas baratas
Passeando entre nós urbanos, desviou do horizonte de concreto e avistou uma pequena floricultura escondida na imensidão veloz do cotidiano metropolitano; nela havia uma placa avisando que as orquídeas coloridas estavam em promoção. Repentinamente, se viu com o olhar capturado nas flores e com as pernas sendo guiadas, passo a passo, até a entrada do local. Lá, o ar possuía um aroma suavemente doce, hipnotizante, apaixonante; mas nada que pudesse ofuscar seu interesse pelas orquídeas baratas, cuidadosamente
guardadas em um conjunto de vasos suspensos no ar.


caso clínico 
Em um pequeno estacionamento próximo ao consultório, um médico escondido entre
carros populares acendeu um cigarro enquanto encarava o chão. Cuspiu a fumaça com raiva, e ergueu novamente a nicotina aos lábios utilizando a mão esquerda; ainda se acostumando com o futuro hábito. Movia as pernas de um jeito nervoso e impaciente,
avançando e recuando, como uma série de comandos para fazer e desfazer digitados em letras coloridas. Ignorou a saída e a entrada de veículos, assim como a repetida vibração do celular no bolso da calça jeans. Esperou mais alguns minutos até retornar ao trabalho e abrir a porta que continha seu nome. Não demorou muito até que um paciente chegasse, nervoso e impaciente, clamando por um encaminhamento para o
pneumologista mais próximo; o doutor não conseguiu segurar o riso leve, muito menos
o olhar em direção ao desafortunado em sua frente. Sem nenhuma razão aparente para deixar de saciar a própria dúvida, perguntou de forma mansa: "você fuma?".

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