Pular para o conteúdo principal

VINIL

Antes de tudo, uma nota do autor.


Eu iniciei esse projeto/blog em agosto desse ano de uma forma bastante impulsiva e idealista, com pouquíssima organização (nunca foi meu forte). 

Ainda que já tivesse inúmeros textos escritos aguardando a estreia aqui, acabei postando somente uma coletânea de microcontos. 

Mesmo assim, a inspiração após meu primeiro contato (em julho) com esse formato de histórias breves persistiu, e continuei escrevendo outros textos; dessa vez, limitados ao meu bloco de notas e minha repentina de vontade de perguntar "quer ler algo que escrevi recentemente?". 

Agora, em outubro, a inspiração e impulso bateram novamente à porta, e decidi reviver de vez esse projeto/blog; movido apenas por uma vontade de compartilhar com o mundo aquilo que escrevi.

.

.

.

finito

O vinil preto dança círculos hipnóticos em um aparelho herdado há gerações; a agulha ameaça o disco e o medo escapa em melodia. A música foge pela janela aberta, e invade outros ouvidos do segundo andar; próxima do fim, ofusca xingamentos e apreciações.


perdida

Através de janelas, olhares urbanos buscam a beleza que não esteja contida em pequenos espaços, manifestada em muros sujos ou escondida atrás de vitrines.


aceso

As velhas calçadas abrigam passos, pássaros e cigarros. Em um ciclo de escapar nas ruas e ser sequestrada por pulmões jovens, a fumaça raramente consegue se misturar com as nuvens que tapam o entardecer.


direções

Resolveram guiá-lo de um jeito novo; com muita energia positiva e imagens motivacionais, seu futuro seria lindo. Pena que morreu atropelado.


sopro

A escuridão é injetada nas veias abertas de Revachol; a cidade se contamina em uma noite clara, como uma vela recém assoprada que se despede em cinzas e brilhos incandescentes.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SONO SONHADO

NOTA Apesar de alguns meses sem novas postagens, o blog continua vivo! Tempos melhores virão, e publicações mais frequentes também. Agradeço à todos os leitores que visitam o Monólogo, e espero que vocês gostem do compilado de microcontos de hoje. Abraços! mais um dia A quietude noturna se rompia com o canto dos pássaros; um misto de melodias contendo duetos e sonetos, como nas canções que encantavam os bares e seus boêmios, cidadãos particulares de uma nação que escrevia lamentos em guardanapos. Em outro lugar, o início da manhã resplendia sobre um jardim banhado pela luz capaz de invadir tudo em seu alcance. As flores reluziam como o Sol, mas também brilhavam como as lâmpadas urbanas da noite anterior, espalhadas pelo lar da madrugada. sono sonhado   Em um campo imaginário, a esfera era lançada em passes inexistentes; lances impossíveis aconteciam em questão de segundos, gols eram marcados e a comemoração da vitória de um jogo nunca disputado se dava por jogadores cujas faces eram b

AGOSTO

A velha estrutura de madeira costumava ranger em agosto. Na verdade, aquele era um péssimo mês para o lar de Fabrício como um todo; as paredes eram mais geladas, o jardim morria e as janelas inibiam o exterior, temporariamente fechadas em uma tentativa de barrar o assombro de ventos e brisas. Tentativa, uma palavra importante para compreender seu modus operandi em relação a própria saúde. O fim da infância foi marcado por uma condenação na cidade em que nasceu, proferida por uma desconhecida cujo rosto se perdeu entre as tantas outras faces que Fabrício odiara em sua vida. Mas a memória da praga rogada, ainda que já muito simplificada e resumida, persistia acesa como uma chama manutenida pelo ódio. “Tu não passarás de agosto” – dito de forma chorosa, quase fúnebre, e uma mão que se estendia em direção ao seu rosto, iluminado pelo sol fraco de agosto. Foi a única vez em que Fabrício sentiu o próprio coração galopar para fora do peito em disparada, as mãos tremerem e o suor frio e in

BOLO DE CHOCOLATE COM GLACÊ

E m alto mar, é possível observar estrelas que alcançam o chão. Em alto mar, o navio que há muito zarpou navega sem rumo, sem norte, sem sul. Alguns erroneamente diriam que está perdido, que nunca será encontrado e nunca encontrará nada. No navio que carrega o nome "Rocca", há pessoas que guardam fotos, latas, amuletos, trapos, discos, cartas, jóias, e qualquer outra peça que possa carregar um valor sentimental; incluindo receitas. Dizem que passar tanto tempo flutuando num pedaço oco de metal pode gerar saudade, entre outras coisas. Saudade de gente, de cheiro, de gosto, de toque, e de vista. Marcos sentia saudade de uma receita muito antiga, escrita num papel já amarelado, um pouco amassado, que olhado um pouco mais de perto, talvez com um olho fechado, também apresente uma tinta desgastada. Seguindo os passos da receita, para fazer o bolo de chocolate é necessário misturar açúcar com cacau em pó, misturar gemas de ovos e óleo, ao poucos acrescentar a água e o trigo, e em s