A velha estrutura de madeira costumava ranger em agosto. Na verdade, aquele era um péssimo mês para o lar de Fabrício como um todo; as paredes eram mais geladas, o jardim morria e as janelas inibiam o exterior, temporariamente fechadas em uma tentativa de barrar o assombro de ventos e brisas. Tentativa, uma palavra importante para compreender seu modus operandi em relação a própria saúde. O fim da infância foi marcado por uma condenação na cidade em que nasceu, proferida por uma desconhecida cujo rosto se perdeu entre as tantas outras faces que Fabrício odiara em sua vida. Mas a memória da praga rogada, ainda que já muito simplificada e resumida, persistia acesa como uma chama manutenida pelo ódio. “Tu não passarás de agosto” – dito de forma chorosa, quase fúnebre, e uma mão que se estendia em direção ao seu rosto, iluminado pelo sol fraco de agosto. Foi a única vez em que Fabrício sentiu o próprio coração galopar para fora do peito em disparada, as mãos tremerem e o suor frio e in...